
Photo courtesy of Dr Siqueira
André Siqueira é diretor do Programa Global de Dengue da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) para a América Latina e cientista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil, que recebeu uma bolsa de treinamento do TDR no início de sua carreira. A seguir, compartilhamos suas histórias inspiradoras de sucesso – como a adaptação da experiência da Tailândia com resistência antimalárica para o norte do Brasil – que mostram como o apoio do TDR à colaboração e ao intercâmbio científico global pode beneficiar muitas regiões do mundo afetadas pelas mesmas doenças infecciosas.
Nascido em Brasília, André estudou medicina na Universidade de Brasília, onde desenvolveu um profundo interesse por doenças infecciosas, especialmente aquelas que afetam populações vulneráveis. Após concluir sua residência em doenças infecciosas, mudou-se para Manaus, na Amazônia brasileira, para se dedicar às doenças tropicais, especialmente aos arbovírus. Há uma década, ingressou na Fiocruz como cientista e investigador principal, liderando estudos de intervenção e observacionais sobre malária, dengue, Zika, chikungunya, COVID-19 e outras doenças.
Sua conexão com o TDR começou por meio de professores que haviam se beneficiado dos programas de capacitação e bolsas de pesquisa da organização. Inspirado pelo trabalho deles, André buscou oportunidades de pesquisa e conseguiu uma bolsa de treinamento no início de sua carreira. Essa bolsa permitiu que ele e colegas da Fiocruz e do Ministério da Saúde do Brasil viajassem para a Tailândia para um intercâmbio fundamental com cientistas que também enfrentavam a malária e outras doenças febris.
“Isso foi decisivo para minha carreira”, relembra. “Foi muito importante aprender sobre a experiência da Tailândia com estudos de resistência a antimaláricos, pois nos permitiu usar técnicas e abordagens semelhantes no Brasil. Esse intercâmbio abriu portas para que eu formasse uma rede colaborativa mais ampla e aprendesse com as experiências de outros cientistas.”
Após esse intercâmbio, André concentrou-se em melhorar as estratégias de monitoramento da resistência a medicamentos para Plasmodium falciparum e vivax em Roraima, estado do norte do Brasil que faz fronteira com a Venezuela e a Guiana. O cenário de saúde complexo da região – moldado por migração, garimpo ilegal e tráfico de drogas – torna a vigilância desafiadora. Com a participação do Ministério da Saúde e autoridades locais, ele conduziu estudos para implementar uma vigilância mais eficaz na região.
Criando uma rede nacional de pesquisa para enfrentar a chikungunya
Além da malária, André expandiu seu trabalho para outros arbovírus circulantes na região, incluindo dengue, Zika, oropouche e chikungunya. Seu objetivo era entender o impacto dessas doenças e desenvolver abordagens integradas que promovam confiança entre as comunidades afetadas e respostas positivas às intervenções de saúde. Essa experiência o levou a criar a REPLICK (Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya), uma rede de pesquisa sobre chikungunya que abrange nove cidades brasileiras e reúne uma equipe multidisciplinar para estudar os efeitos econômicos, psicológicos e sociais da doença nas pessoas afetadas. Ele aplica esses mesmos princípios em sua função na DNDi, onde as atividades são orientadas pela Dengue Alliance, uma coalizão de instituições de pesquisa e saúde de países endêmicos em uma colaboração Sul-Sul.
“Essas iniciativas continuam gerando dados e experiências que nos ajudam a entender melhor quais fatores contribuem para complicações”, explica. “Assim, podemos tomar medidas para melhorar os protocolos e reduzir a letalidade da doença, mitigando seu impacto na saúde da população.”
André enfatiza que seguir uma carreira em pesquisa em regiões com grandes desafios de saúde exige persistência, financiamento e apoio de instituições e autoridades sanitárias. Oportunidades como as oferecidas pelo TDR são valiosas para a construção de carreiras científicas, afirma.
“Investir em capacitação e pesquisa é fundamental porque nos permite gerar experiências reconhecidas regional e globalmente como exemplos de pesquisa de alta qualidade.”
Ele também defende maior visibilidade para as experiências bem-sucedidas de pesquisa na América Latina, observando que muitas permanecem não documentadas. Compartilhar essas histórias pode inspirar adaptações em contextos semelhantes e promover a colaboração global.
“Disseminar essas experiências promove o intercâmbio global com outros continentes em situações semelhantes, criando um ambiente ideal para cultivar novas e melhores ideias e expandir redes de colaboração entre cientistas.”
Sabemos que seguir uma carreira em pesquisa em países com recursos limitados é desafiador, mas não impossível. Cada experiência bem-sucedida oferece inspiração e uma oportunidade de expandir e fortalecer nossas redes de cooperação. Você tem uma experiência para compartilhar? Ajude-nos a dar visibilidade às histórias dos nossos cientistas da rede TDR Global na América Latina e no Caribe. Escreva para nós: achamorro@cideim.org.co - klinares@cideim.org.co.